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Técnica de grupos operativos

12/03/2021
Técnica de grupos operativos

Este é meu resumo do texto em que Pichon-Rivière descreve sua técnica de grupos operativos.


Sobre a tarefa do psicólogo social: "a tentativa de descobrir, entre outras coisas, certo tipo de interações que entorpecem o pleno desenvolvimento da existência humana" e adiciona "a descoberta dos fatores que favorecem o desenvolvimento" [p. 121]

Sobre o psicólogo social: "deve saber que está incluído, comprometido, no próprio terreno de suas investigações e que, ao operar, produz de qualquer maneira um impacto determinado" [p. 122]

O texto descreve a dinâmica feita com 15 grupos, que contavam com:

  • sessões que duravam 4 horas
  • um coordenador, que atuava como orientador, facilitando a comunicação e tentando evitar a discussão frontal [p. 123]
  • um ou dois observadores, registravam tudo que acontecia no grupo, através de um enfoque panorâmico [p. 124]

A dinâmica tinha três partes: a) a preparação inicial; b) a dinâmica em si e c) o intervalo entre essa experiência e a próxima.

A primeira parte era composta de uma preparação inicial da equipe de trabalho, com técnicas grupais, e distribuição de cartazes em vários locais frequentados por estudantes.

A segunda parte, a dinâmica em si, foi subdividida em várias partes. Inicialmente, num auditório onde a equipe se reuniu com todos o público participante, o coordenador falou sobre o significado da experiência, propondo alguns temas. Então se seguiram as sessões de grupo.

1ª sessão foi feita com grupos heterogêneos, logo depois da reunião do auditório. Cada grupo contava com 9 membros escolhidos ao acaso.

Depois da 1a sessão, foi feita uma reunião da equipe de trabalho com o coordenador geral para controlar* e avaliar a tarefa executada até o momento.

Uma 2ª sessão acontecia depois com os grupos heterogêneos. Aqui, aqui tanto o coordenador quanto os observadores "enfrentaram o grupo com uma crescente capacidade de compreensão" [p. 124].

Uma nova reunião da equipe de trabalho com o coordenador geral, foi feita para avaliar a 2ª reunião de grupos heterogêneos

Numa nova fase da interação (daí o termo espiral, dado que a técnica prevê uma série de interações em que a cada uma ocorre algum aprendizado), Pichon-Rivière voltou a expor ao público num auditório, mas agora o público já se tornou participante do experimento. A finalidade era fazer com que os participantes se reconhecessem "em espelho" como indivíduos separados e como participantes de um grupo, através dos temas que emergiram nos encontros.

As sessões de grupos homogêneos eram formados reunindo participantes do grande grupo inicial que possuíam algum interesse ou traço comum: foram formados 5 grupos de medicina psicossomática, 3 grupos de psicologia, 1 grupo de boxeadores, etc...

Depois aconteceu uma terceira reunião de controle da equipe de trabalho com o coordenador geral.

Ao final, aconteceu uma última exposição de Pichon-Rivière com os grupos homogêneos e heterogêneos, antes que houvesse um intervalo até uma próxima rodada do experimento que hoje conhecemos como grupo operativo.

O texto apresenta algumas conclusões retiradas dessa experiência:

  • "a didática interdisciplinar baseia-se na pré-existência, em cada um de nós, de um esquema referencial (conjuntos de experiências, conhecimentos e afetos com os quais o indivíduo pensa e age) que adquire unidade através do trabalho em grupo" [p. 125]
  • "a análise das ideologias é uma tarefa implícita na análise das atitudes e do esquema conceitual, referencial e operativo (ECRO)" [p. 129]
  • As ideologias são formuladas em palavras. Elas não costumam formar um núcleo coerente, e o mais comum é que coexistam várias ideologias contraditórias: "a análise sistêmica das contradições (análise dialética) constitui uma tarefa essencial no grupo" [p. 130]
  • As principais contradições que se referem ao campo de trabalho devem ser resolvidas dentro do próprio grupo
  • Ao funcionar de maneira mais ou menos inconsciente, a ideologia funciona como uma barreira que impede novas soluções [p. 131]
  • a atividade de grupos operativos está centrada na mobilização de estruturas estereotipadas, nas dificuldades de comunicação e aprendizagem, causadas pela ansiedade envolvida em todo processo de mudança, que são de 2 tipos:
    • ansiedade depressiva: causada pelo abandono do vínculo anterior
    • ansiedade paranóide: causada pela insegurança em relação ao novo vínculo
  • Essas ansiedades são coexistentes e se forem intensas podem causar o fechamento do sistema (círculo vicioso)

"No grupo operativo, o esclarecimento, a comunicação, a aprendizagem e a realização de tarefas coincidem com a cura, criando-se assim um novo esquema referencial" [p. 137]

* Hoje o termo francês contrôle é traduzido no Brasil, quando se refere à psicanálise, como supervisão. Suponho que o termo "controle" utilizado no texto seja motivado por uma tradução do termo "controle" em espanhol, mas seja de fato uma referência à prática em que um determinado profissional da área da psicologia ou psicanálise relato um atendimento e recebe orientação de um profissional mais experiente. Não me parece fazer sentido que o grupo operativo sofresse algum tipo de controle, no sentido autoritário do termo, por parte de Pichon-Rivière.

Referência:

PICHON-RIVIÈRE, E. Técnica de grupos operativos. Acta Neuropsiquiátrica Argentina, 6, 1960. In: ______. O processo grupal. 8a ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

Foto: Margarida CSilva on Unsplash