Resumos

Seminário 10: A angústia

17/04/2024
Capa do Seminário 10

I - A angústia na rede dos significantes

Lacan inicia o seminário destacando que um psicanalista próximos a ele ficou surpreso com a escolha do tema do seminário, porque "não lhe parecia ser de tão grande potencial". Afirma que a angústia é justamente onde vem desembocar todos os temas tratados nos seminários anteriores. Lembro os temas dos seminários anteriores: os escritos técnicos, o eu, as psicoses, o objeto, as formações do inconsciente (chiste, atos falhos, lapsos, sonhos), o desejo, a ética, a transferência e a identificação. Sobre esses temas, ele diz: "[...] ao se ligar mais estreitamente ao campo da angústia, cada um tomará ainda melhor seu lugar" (p. 11). No final deste parágrafo afirma que a estrutura da angústia é a mesma estrutura da fantasia.

I

Alguns significantes são relacionados: Cuidado, Seriedade, Expectativa, Inibição, Sintoma e Angústia. Os 3 primeiros foram conceitos pelos quais a angústia foi descrita pelos filósofos do Existencialismo. Nosso amigo Jean⁩ nos informou que este seminário é da década de 60, quando o existencialismo estava em queda, depois de ter tido seu apogeu na França nos anos 50. Os 3 últimos são parte do título da obra de Freud de 1926.

Lacan discute a relação do psicanalista com a angústia: os novos sentem angústia desde os primeiros atendimentos; já os mais experientes aprendem a regulá-la: "a angústia não parece ser o que sufoca vocês, [...] não é demais dizer que deveria fazê-lo" (p. 13).

Lacan a ponta a relação essencial da angústia com o desejo do Outro e apresenta o grafo do desejo, dizendo que "o ponto de articulação dos dois andares do grafo, [...] deve ser a chave do que a doutrina freudiana introduz sobre a subjetividade".

"Seguindo a trilha de Sigmund Freud — que também buscou na literatura de Goethe uma referência para suas análises através de 'Fausto' — Lacan tomou por referência uma pergunta feita pelo diabo, num texto escrito em 1772 por Jacques Cazotte, intitulado 'O diabo amoroso': 'Che vuoi?'" (o que queres?) [1]

Lacan diz que essa pergunta fica suspensa entre os dois andares do grafo e "É no jogo da dialética que ata tão estreitamente essas duas etapas que veremos introduzir-se a função da angústia" (p. 15). Então ele faz uma indicação de método: "Ver em que pontos privilegiados ele emerge nos permitirá modelar uma verdadeira orografia da angústia" (p. 15). O relevo que poderemos observar não é outro que aquele indicado pelas relações termo a termo no grafo do desejo (vejam a folha que a ⁨Maria Antônia⁩ nos trouxe para poder ler os termos que aparecem no grafo do desejo).

Lacan faz uma discussão de como o termo angústia foi tratado pelos existencialistas, mas faz uma crítica: não devemos nos enganar ao pensar que podemos cercar e descrever a angústia tão facilmente como fizeram os existencialistas: "se vocês forem proculá-la nesse ponto, logo verão que, se em algum momento ela esteve aí, bateu asas e voou" (p. 17).

II

Lacan passa a dialogar com o texto de Freud Inibição, Sintoma e Angústia. Ele faz uma analogia do psicanalista com o equilibrista, com o contraponto de que, no caso do psicanalista, não existe uma rede de proteção. Inibição, sintoma e angústia não estão no mesmo nível. Freud situou a inibição na dimensão do movimento: alguém inibido tem de alguma forma uma diminuição da função do movimento. Lacan vai em busca da etimologia da palavra impedimento e chega em impedicare, que significa ser apanhado na armadilha. Ele diz: "Indico-lhes desde já que a armadilha de que se trata é a captura narcísica" (p. 19). No esquema apresentado em um quadro, Lacan indica que da inibição em direção à angústia há aumento das dimensões de dificuldade e de movimento. Outras etimologias são tratadas no texto.

III

"Que é a angústia? Afastamos a ideia de que seja uma emoção. Para introdui-la, direi que ela é um afeto." (p. 23).

Lacan aborda as críticas que eram feitas a ele por supostamente não se interessar pelos afetos.

Harari (1987) nos explica a relação dessas referências aos afetos: "Os que sustentavam essa acusação - e ainda há quem a mantenha - pretendiam que o decisivo para as preocupações dos. analistas residia na temática dos afetos. Lacan, sem dúvida, não se centrava nos evanescentes 'aspectos afetivos' daí a crítica já tradicional, esgrimida por autores como André Green" [2].

Lacan diz: "eles acham que me interesso menos pelos afetos do que por outras coisas. Isso é um absurdo. [...] Ao contrário, o que eu disse sobre o afeto foi que ele não é recalcado. Isso, Freud o diz como eu. Ele se desprende, fica à deriva. Podemos encontrá-lo deslocado, enlouquecido, invertido, metabolizado, mas ele não é recalcado. O que é recalcado são os significantes que o amarram" (p. 23).

Assim, Lacan termina o primeiro capitulo do seminário sobre a angústia:

"Não lhes desenvolvo uma psicologia, um discurso sobre a realidade irreal a que chamamos psique, mas sobre uma práxis que merece um nome: erotologia. Trata-se do desejo. [...] É à agudeza da angústia que temos de nos ater" (p. 24).

Referências

[1] https://revistacaliban.net/che-vuoi-570e82638297

[2] HARARI, Roberto. O seminário "a angústia" de Lacan: uma introdução. Porto Alegre: Artes e Ofícios Ed., 1987, p. 14.